DFP_
Localização:Pelotas - Rio Grande do Sul
Tipo:Carreiras Universitárias
Modalidade:Presenciais
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HISTÓRICO
A disposição curricular atual da Faculdade de Odontologia praticamente
reporta-nos ao modelo flexneriano onde o paciente, ao ser atendido, tem seu
corpo dividido em partes a serem tratadas individualmente, descontextualizado
sócio, econômica e culturalmente, além do que, as questões preventivas não são
relevantes no ensino. Identifica-se um sistema de ensino por especialidades e
voltado para o atendimento de indivíduos, o que evidencia uma outra
característica do curso, qual seja, a delegação a uma única disciplina a tarefa de
ensinar aos estudantes que devem ter uma visão ampliada de atuação na
Odontologia, capacidade de desenvolver uma assistência integral, condições de
planejar ações coletivas e trabalhar com níveis de atenção.
Além disso, a disposição departamental vigente faz com que as aulas, via
de regra, sejam moldadas por uma estrutura didática “encerrada” em conteúdos
tratados por disciplinas, de forma praticamente isolada dentro curso. Desta forma,
os professores distanciam-se entre si, não somente pelos espaços físicos de
clínicas isoladas a partir de “especialidades”, mas também pelo fato de que as
disciplinas não conhecem e não se integram com o conteúdo apresentado em
outras. Atualmente cabe exclusivamente aos estudantes a tentativa de realizar
esta ligação, mas ainda sob o vício da repetição de conteúdos entre vários
semestres, habituados a uma dita “necessidade de recapitulação”.
o
Com todos estes (e provavelmente outros) equívocos pedagógicos, os
Cirurgiões-Dentistas egressos desta escola limitam-se à capacidade de enxergar
em separado a aplicação dos vários conhecimentos que lhe são ensinados, sem
formar uma relação de conjunto com o restante do curso.
Assim, nosso currículo estava absolutamente discrepante das Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Odontologia e muito longe de
alcançar o objetivo geral destas, qual seja:
“... com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em
todos os níveis de atenção à saúde, (...) com base no rigor técnico e científico,
pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social,
cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da
realidade em benefício da sociedade”.
Não é possível que o nosso estudante, ao final de um curso
caracterizado como repassador de conteúdos especializados de aplicação
individual e em clínica privada, consiga visualizar o paciente inserido no seu meio,
exercitando ações curativas, preventivas e de reabilitação nos diversos níveis de
complexidade e integrado à rede pública de atenção à saúde.
A identificação destes problemas, coincidindo com o momento de total
sucateamento da Faculdade, falência da estrutura física básica (rede elétrica, de
água e esgoto, telefonia, ausência de política crítica e ações integrais visando os
critérios de biossegurança), além da falta de um projeto pedagógico
verdadeiramente construído pela comunidade da Odontologia da UFPel, fez com
que emergisse (não pela primeira vez, mas ainda usando a esteira da Análise
Prospectiva, desenvolvida em 1993) a discussão sobre a modificação da realidade
ora existente. Várias assembléias apontaram para a necessidade premente de
interrupção temporária e parcial das atividades acadêmicas, a fim de que
pudéssemos adequar a estrutura física do prédio aos preceitos atuais de
o
biossegurança, ao número de alunos da faculdade e às condições tecnológicas
atuais, bem como construir coletivamente um novo currículo para nosso curso.
Passamos a viver, então, mais um momento riquíssimo da história da
Faculdade de Odontologia, em que exercitamos o real papel do espaço
acadêmico, qual seja o de constantes e intensos questionamentos e discussões,
oposto ao imobilismo que pudesse estar servindo a setores ideologicamente
estruturados e comprometidos com a falência do ensino público, gratuito e de
qualidade. Desta forma, a nossa faculdade foi tomada por professores e
estudantes que, majoritariamente, entenderam e viveram a Universidade como
espaço de luta, exercitando isso na legitimidade conferida pelas discussões para a
reforma da sua estrutura curricular, juntamente com a criação do nosso Projeto
Político-Didático-Pedagógico.
Desta forma, iniciou-se um plano de ação imediata, com a participação
da comunidade universitária no processo de avaliação e discussão
sistematizadas, que permitisse a construção de um projeto pedagógico o qual,
articulado com uma nova disposição curricular, fosse capaz de construir o perfil do
Cirurgião-Dentista a ser formado na UFPel, condizente com as necessidades
sociais brasileiras.
Considerando a importância da participação da Comunidade no processo,
foi adotada uma metodologia para discussão e elaboração do projeto pedagógico
do curso de Odontologia da UFPel. Esta metodologia objetivou a conscientização
e interação da problemática por parte do corpo docente e representação discente,
na construção de um modelo educativo que tenha como embasamento o
compromisso participativo, conduzida em diferentes fases.
Inicialmente houve apresentação do problema, quando foi exposta a
realidade do atual projeto pedagógico da UFPel, conceitos e propostas de projetos
pedagógicos e currículos implantados, com sucesso, no Brasil. A partir do
o
conhecimento adquirido, coube às disciplinas que compõe o atual currículo da
Odontologia, discutir como deveriam se inserir na nova proposta. Dentro do
possível, um professor de cada disciplina participou dos grupos de discussão e
formulação de propostas. Foram formados três grupos, compostos pela divisão de
todos os docentes do curso de Odontologia, estudantes da pós-graduação e
graduação. Cada grupo teve um coordenador, co-coordenador e relator,
resultando após 30 tardes de discussão, em três propostas iniciais para o curso de
Odontologia.
De posse dos relatórios dos grupos, a Comissão especial composta
pelos coordenadores, co-coordendores e relatores dos grupos, mais a
coordenadora do Colegiado de Curso, formularam proposta única de projeto
político-didático-pedagógico para o curso de Odontologia. Proposta esta,
apresentada à Comunidade nos dias 18/19/20 de fevereiro para discussão, ajuste
e aprovação, conforme atas em anexo. A partir da aprovação houve um período
de estruturação das ementas e programas das novas unidades do ensino,
envolvendo os prováveis docentes de cada uma, independente do Departamento
a que pertenciam.
Em 20 de março de 2003 é referendada por unanimidade dos membros
do Colegiado de Curso presentes, a proposta do projeto pedagógico elaborado e
aprovado pela comunidade e, ao mesmo tempo é sugerida a nova composição do
mesmo, atendendo a nova proposta curricular. Após ciência do Conselho
Departamental a proposta de projeto Didático-Político-Pedagógica é encaminhada
para avaliação e aprovação nos órgãos superiores competentes: Comissão de
Graduação e COCEPE em 16 de julho de 2003.
Paralelo a este momento, com o auxílio de pedagogo, uma comissão
estuda o Sistema de Auto-avaliação do curso e Sistema de Acompanhamento dos
Egressos, completando, assim, a primeira etapa da elaboração do Projeto Político-
Didático-Pedagógico.
o
Entretanto, existe consenso que para sua implantação efetiva serão
necessários esforços de todos: discentes, docentes, Reitoria e apoio
governamental, na realização de obras necessárias, redistribuição e
complementação dos recursos humanos, sob pena de comprometer este histórico
momento vivido pela comunidade da Faculdade de Odontologia, na busca da
formação de um profissional devidamente preparado para interagir com a
sociedade em que se insere, interferindo no processo saúde-doença bucal e
melhorando a qualidade de vida da população.
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